Professora mestranda, Margarete dos Santos, tem história de superação |
“Para eu pegar o transporte e não faltar às aulas da Ufal minha mãe retirava dinheiro da feira semanal”. Essa foi uma das declarações de Margarete dos Santos. De origem humilde, moradora de Luziápolis, Distrito do município de Campo Alegre, ela começou a trabalhar aos 10 anos, como empregada doméstica e babá, hoje, aos 39, tem um currículo admirável. Foi a primeira da comunidade a ter uma graduação. É professora concursada do Estado e conquistou uma vaga no mestrado de Letras, da Universidade Federal de Alagoas.
A história de superação da professora estadual Margarete dos Santos é inspiradora. “Tornei-me professora por vocação, por amor. Era um sonho e admiro demais essa profissão. Gosto do que faço. Quando você entende que o seu trabalho, ajuda às pessoas a se tornarem melhores, a cada dia, todo esforço é recompensador”, afirmou.
Mesmo tendo diversos motivos para desistir, Margarete permaneceu firme no objetivo de ter a graduação em Letras. Compais semianalfabetos, uma família de oito irmãos e trabalhando desde criança, nunca deixou de ir à escola. “Meus pais e, principalmente, a minha mãe tinham esse cuidado de nos incentivar em relação aos estudos. Ela tinha essa visão e sabia que investir na Educação ajudaria os filhos a conquistar um espaço diferente do que eles tiveram na sociedade,” disse.
“Quando eu comecei a lecionar no município, eu nem imaginava que iria fazer uma Universidade. Afinal, de onde eu venho, não existe uma ambição. Conquistar um ensino superior é um desafio muito grande. Eu diria, que uma utopia. No interior, um jovem sair daquela realidade, de um lugar tão pequeno, é bem difícil. Inclusive, depois do meu exemplo, meus irmãos voltaram a estudar e alguns deles concluíram a graduação,” fala emocionada.
Segundo Margarete, trabalhar e estudar simultaneamente, nunca foram um empecilho porque ela tinha um foco. “Eu sempre perguntava a mim mesma: quais são minhas perspectivas de futuro, o que eu quero para mim? Quais são minhas metas?”. Essa determinação a fez passar em um teste para trabalhar em um laboratório, aos 15 anos, em uma usina da região. Por lá ficou mais de quatro anos, até passar em um concurso municipal, como professora, já com o título do magistério.
“Tive boas referências. Isso foi primordial. Todos os meus professores me fizeram acreditar que é possível olhar com carinho a profissão, de você ser capaz de ajudar o outro a construir o conhecimento, a formular e refletir o estudo. E continuo sonhando, por mais que queiram provar que a educação não tem mais valor”, afirmou Margarete.
Depois Margarete teve a experiência de lecionar em escolas particulares. Ela salienta que nunca mudou a visão de compromisso pelo tipo de ensino. “A paixão é a mesma. O mesmo carinho, empenho e compromisso aos dois tipos de ensino, nas redes pública e particular”, salientou.
Determinação supera todas as dificuldades
Quando uma criança, que passa por diversas dificuldades, como as de Margarete, se não tiver tido inspiração, nem incentivos, torna-se difícil superar e conseguir êxito profissional. Mas para a professora, não é impossível: “É bem mais difícil, porque é muito importante você ter uma referência e ouvir: você é capaz. Mas se ela realmente quiser, tiver bastante força de vontade, é possível,” ratifica.
A maior dificuldade – e ao mesmo tempo, a maior conquista – de toda a trajetória de vida da professora, foi os quatro anos passados no curso de Letras, na Universidade. “Vim para Maceió prestar vestibular, fui aprovada em Letras e continuei lecionando no ensino infantil e fundamental, no interior. Mesmo sem o município disponibilizar transporte. Acho que muitas vezes poderia ter desistido, porque não tinha nenhuma garantia de voltar para casa, ao sair da Ufal. Mas não desisti. Minha mãe tirava dinheiro da feira da semana, para eu pagar o transporte. Mesmo que faltasse comida em casa, ela sabia que não podia faltar. Eu ia em frente,” relembra com comoção.
Residência Universitária, casa de amigas, aluguel. Margarete dos Santos passou por todas as moradias até conquistar a casa própria, depois de juntar dinheiro, sendo professora das redes estadual e particular, e como colaboradora da casa de cultura de línguas latinas da Ufal.
Ao relembrar constrangimentos que uma professora da Ufal lhe fez passar, ela descreve outra lição de superação. “Professora, você não sabe de onde eu vim, eu passei por tanta coisa. Eu venho de tão longe. Eu não tinha transporte para chegar aqui. Eu sou a primeira de Luziápolis a conquistar uma graduaçãoem uma Universidade Federal”, disse.
Mestrado: 200 candidatos para 12 vagas
Um salário mínimo foi o que manteve Margarete, durante o ano de 2014. Ela preferiu parar de lecionar e ficar apenas com o cargo da Casa de Cultura, com o propósito de estudar para um novo concurso do Estado e a prova de Mestrado da Ufal.
“Eram 200 candidatos, para 12 vagas. Com essa concorrência não imaginei que iria passar. No dia da prova do mestrado, estava chovendo torrencialmente, e eu dirijo moto. Além disso, o Campus da Universidade estava sem eletricidade. E, eles não tinham autorização para cancelar a prova, por ser um exame nacional, fizemos no escuro”.
Ao passar no segundo concurso do estado, Margarete fez a opção por mais um desafio. Além da Escola regular Rodriguez de Melo, a professora leciona no Colégio Ciro Acioly, exclusiva para deficientes visuais. “Eu optei vir para essa escola, porque achei que precisava de mais um desafio, aprender outra língua, como Libras e vi que tinha necessidade de professores na minha área”.
Quando questionada sobre o ápice da profissão ser o mestrado, Margarete disse: “Por enquanto. Eu sei que posso ir mais longe. Devo tudo isso, primeiramente a Deus, depois a minha mãe.”
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